sábado, 27 de setembro de 2008

Rock no Municipal




“Tudo foi feito pelo sol...”

Depois das audições dos Novos Baianos, não havia duvida, eu preferia a música mais brasileira, com mais cores locais, que o Rock dos Mutantes ou do Terço, que ouvidos a distância dos anos,confirmam o que eu achava na época. Um som cheio de pretensões instrumentais e virtuosismo nas interpretações, “som cabeça” com letras que mais pareciam “viagens astrais”, principalmente nos discos: “Tudo foi feito pelo sol” e “Mutantes ao Vivo”. O Terço também viajava pelas mesmas galáxias, mas tinha um pé no Clube de Esquina. Evidenciado anos mais tarde, quando o tecladista FlavioVenturini, formaria o grupo 14 Bis.
As apresentações ao vivo, eram pura loucura: o Menem Moog dos Mutantantes, os Sintetizadores do Terço, as performances, com muita fumaça de gelo seco, o show de luzes, os efeitos sonoros da Fender Stratocaster e o Pedal Streel showbud, de Sérgio Dias ou da Guibson vermelha de Sérgio Hinds. Iamos ao delírio,principalmente depois de um “xazinho".

Um dos pontos de encontro dos roqueiros, era a escadaria do teatro Municipal, juntavamos ali, e ficavamos trocando idéias, e armando os encontros para os shows de fim de semana.
Não passava pelas nossas cabeças, que as portas do Municipal abrir-se-iam, para um show de rock não de uma banda ,mas duas. O show, Mutantes e Terço,interpretam Beatles.
Passada a surpresa, era hora da compra de ingressos.A fila dava à volta no teatro.
Para os transeuntes da cidade, um evento aparte, e uma questão: “O que fazem esses loucos aqui?”.
Para nós, a grande chance de vermos: Terço e Mutantes, e responder nossa duvida.Qual é a melhor banda?
À noite, tumulto total na frente do Municipal, com os ingressos esgotados, a aglomeração parou o trânsito, das esquinas da Xavier de Toledo, e do Viaduto do Xá. A Praça Ramos de Azevedo, em frente ao teatro ficou lotada de Policiais que pacificamente observavam a agitação.Quem conseguiu entrar não se arrependeu das filas.
Existia uma grande expectativa, antes do show, afinal a maioria do público entraria no Municipal pela primeira vez, não para ver Opera ou um concerto de Música Clássica, mas sim dois grupos de rock. Ao entrarmos parecíamos seres de outro planeta.As botas coturnos os jaquetões do exercito que estavam na moda entre os roqueiros, não combinavam com as poltronas vermelhas de veludo.
Das galerias, observavamos: às frisas os camarotes, que abrigavam algumas autoridades. (também curiosas com aquele cenário,intimamente torciam para que ninguém quebrasse nada)
As bandas, apresentaram-se separadamente, foi uma celebração.
Ótimas interpretações, no fim um “Gran finale” as duas bandas tocaram juntas.Empate.
O público foi tomado pelo clima de Concerto do teatro, e nenhum incidente ocorreu, a música com sua magia, entorpeceu a todos. Nesta noite de rock até as poltronas e os lustres de cristais do Municipal, dançaram. Bravo, bravo, bravo!!!

Mais de 30 anos depois, é de se admirar a audácia dos produtores,produzirem um evento deste porte no Teatro Municipal em plena ditadura.Depois várias outras apresentações de música popular, foram realizadas ali.

3 comentários:

Moacir Oliveira disse...

porra
pq vc parou de escrever?

cara
esses seus textos, memórias, HISTÓRIA. não vejo , não li em outro lugar.
São Paulo parecendo nas tuas letras
bom demais
não peguei o tempo da escadaria do municipal
mas tinha ouvido outras estórias. eu comecei a trampar em 78, vi pouca coisa
mas a calça Levis eu tive comprada na barão de itapetininga com o 1º salário
só fui começar a andar em 82
centro cultural, sesc pompeia, bixiga

escreve
escreve

Mauricio Miele

Thomaz Nunes de Oliveira Neto disse...

Caramba que lindo texto que descreve exatamente o clima antes e durante esse show histórico, realmente ninguém acreditava que estava sentado naquelas lindas cadeira de veludo vermelho vendo eles tocarem Beatles (e vestidos a caráter, lembra ???

Moacir Oliveira disse...

Sim, lembro! Abs!