segunda-feira, 7 de maio de 2012




“Não, não quero mais brincar de sol e chuva com você ...”




Estávamos indo de carona, no Passat verde 75, do Krapula, (responsável por horas e horas de Rock.) . Durante o trajeto até minha casa ele colocou uma fita pra tocar,e logo nos primeiros acordes já queríamos saber de quem era aquele som. “Calma” nos pediu krapula. Queria que ouvíssemos mais um pouco.

Era um disco ao vivo e a cada faixa uma surpresa,era um misto de Rock , Baião e Repente.Tudo muito bem misturado,com guitarra,viola,flauta,baixo e bateria e um vocal com sotaque nordestino, num ritmo alucinante.

E nós novamente: Que som é esse? "Alceu Valença”.finalmente respondeu Krapula. Mauro de imediato sentenciou: “Puta Som”.

A primeira vez que e vi e ouvi Alceu, fora no Festival Abertura em 1975,quando defendeu a música “Vou danado pra Catende” parafraseando, versos de Ascenso Ferreira,autor do poema, “Trem”,dos anos 30, criado para apoiar à campanha presidencial de João Pessoa,no qual tem o verso: “Vou danado pro Catete,Vou danado pro Catete com vontade de chegar”.(Um claro apoio para o político nordestino chegar ao Palácio do Catete,então sede do Governo Federal. No Rio de Janeiro). Na letra de Alceu, composta 40 anos depois ele propõe o caminho inverso:”Vou danado pra Catende,Vou danado pra Catende com vontade de chegar’.Alusão à cidade pernambucana.

Outra lembrança que guardara da figura de Alceu, fora de uma propaganda do disco de Alceu Valença ao vivo, vinculada na Rede Globo. E esse era o som da fita.

Na mesma semana, corri as lojas de disco do centro até encontrar o LP “Alceu Valença Vivo”.Gravado no Teatro Tereza Raquel,no Rio de Janeiro em 1976. Acompanhado de Paulo Rafael, guitarra,Zé da Flauta, flauta transversal ,Zé Ramalho da Paraíba,viola de doze cordas e vocal,Israel,bateria e percussão,Agricio Noya, percussão e Dicinho,baixo.

Música, inventiva, cheia de referencias de cantores das feiras de Pernambuco,alia da onde vinha a banda ,menos Zé Ramalho da Paraíba.



Alceu, mais parecia uma atração circense, no palco, onde tive a oportunidade de vê-lo varias vezes,tinha uma performance incomparável, lembrava cantores das bandas de rock,correndo por todo o palco,pulando ou dançado um forro arrochado, com uma Nega de pano, de seu tamanho que ele apresentava ao som de “Vem morena pro meu lado,vem morena vem dançar”. As letras surpreendentes além das suas próprias as de compositores populares do nordeste..



Alceu, trazia um baú cheio de cores da cultura popular pernambucana,cantava .Jakson do Pandeiro e revestia os frevos e maracatus,repentes e emboladas,com um rock pesado.

Em “Papagaio do Futuro”, numa visão: “ pré-globalizada” denunciava a poluição , previa as grandes viagens espaciais e modernizava o tema : “Vem gente lá de São Paulo,que dizer que é Paulistano,Vem gente das Alagoas,que dizer Alagoano,Vem gente de Pernambuco e quer dizer Pernambucano.Vamos visitar a lua num foguete americano.” Reinventado o refrão de “Corintiano” letra de Sebastião do Rojão,que fora sucesso nos forros lá de casa.

Alceu, sempre teve a frente de seu tempo, sempre misturou, baião e blues. Abriu nossa visão regionalista:Rio,São Paulo, para vislumbrarmos um mundo que não conhecíamos

Um som que não ouvíamos: a dança dos Mamulengos, os becos de Olinda,as ruas e pontes de Recife os frevos de Capiba. Descobrimos com sua música outros brasis.

Dali foi só um passo pra chegarmos à Zé Ramalho, Geraldo Azevedo,Amelinha e a novíssima:Elba Ramalho,que em um dos primeiros shows solos de Zé Ramalho em São Paulo no teatro Nidia Licie, assistia seu primo da platéia e foi convidada a cantar.Surpreendente.

A música do Quinteto Violado e a música instrumental da Orquestra e do Quinteto Armorial , também vieram a reboque, neste foguete agalopado, pilotado por Alceu Valença.

Moacir Oliveira