quarta-feira, 24 de setembro de 2008


“O tempo corre, o tempo corre na BR -3...”

Em 1970,Tony Tornado, no V Festival Internacional da Canção, interpretou “BR- 3”(Antônio Adolfo e Tíberio Gaspar).A negritude das periferias de todo país começou a imitá-lo, e nos fins de semana os bailes Black, lotavam. O visual do momento era: cabelo Black Power,calça pantalona boca de sino e sapato salto plataforma.

Lá na vila, nosso DJ era o Hitão. Dono de uma aparelhagem poderosa e uma discoteca de primeira. Ele que animava os bailes, cada fim de semana em uma casa diferente. Eu o menor da turma, estava sempre perto das picapes, quando o Hitão ia dançar, eu cuidava dos discos. Via capa por capa: Ray Charles, James Brown, Marwin Gaye, Jackson Five, Stevie Wonder, Diana Rossi, e mais os nacionais: Martinho da Vila, Originais do Samba, Jorge Ben, Bebeto, Bateria Independente de Padre Miguel.

O baile ficava bom, quando começava a sessão de Samba Rock. O “bicho pegava”, eu desgrudava dos discos, corria para ver as meninas dançando. Lindas com suas pantalonas apertadinhas, e as bundinhas arrebitadas.
Quando tocava, o ainda Jorge Ben: “Esse sambinha é coisa nossa,Esse suingue é coisa nossa ,Esse fuminho é coisa nossa...” O Hitão abaixava o som.A música havia sido censurada. O Hitão era um dos únicos que tinha o disco original sem censura. Alias, foi a primeira vez que ouvi falar de censura.Não era coisa nossa, era coisa dos Militares. Aos poucos fui me incomodando com esses Militares.

O baile rolava muito bem, sem confusão, até chegar à turma da “Bomba”. Era uma turma da R. Minas Gerais, e nós a turma do “Campinho”. Em Americanópolis, a topografia, é totalmente irregular, a maioria das ruas são ribanceiras muito íngremes. Nossa vila era a única que tinha um campinho de futebol. Naturalmente, causava inveja na turma da "Bomba", conseqüentemente à rivalidade.
Eles andavam em 10 ou 15, liderados pelo Pulmão,um branco cabeludinho que andava sempre com um “cano” na cintura (um dos únicos que andava armado, naquele tempo, e por isso, temido por todos) e entre eles, a Maria Sete Bala,morena bonita,mas cheia de gestos e gírias,sempre disposta a arrumar alguma encrenca.
Para não ficar mal, ninguém saía do baile de imediato, o clima mudava completamente. Eles chegavam com umas negras lindas, dançavam muito bem o samba quadradinho e o samba rock.
Nós ficávamos sem saber o que fazer: se olhássemos muito, eles não gostavam , se não olhássemos, eles achavam que estavam sendo desprezados. Então, sem chances. O “pau quebrava” .
Por precaução, os garotos iam de leve, escorregando sorrateiramente pela parede até a porta, dali davam um pinote até em casa e ficavam quietinhos só esperando o tiroteio. É que depois geralmente, chegava a turma da Rua do Céu, esses eu nem sei descrever, nunca esperava para ver .

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