terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tertulia Jabaquara


Quando em 1982, fui ao concerto do violonista e cantor de Modinhas Brasileiras: Sérgio Rovito, não podia imaginar, que aquela apresentação, que me levou a conhecer,depois de quase dois anos de inaugurado o Centro Cultural Jabaquara (C.C.J),iria render tantos frutos apesar de muitas dificuldades.

Após o concerto, realizado num domingo à tarde, com meia dúzia de gatos pingados na platéia. Meu amigo de infância Joãozinho e eu, assistimos a apresentação, e ao final fomos cumprimentar Sérgio Rovito. Ele nos agradeceu por termos ido prestigiá-lo, naquela tarde cinza, naquele bairro distante da periferia da zona sul de São Paulo.

Ficamos falando de música e cultura, até sermos apresentados para a diretora do centro cultural a Sra. Bernadete. Muito simpática nos falou da política de integração cultural, desenvolvida pelo então Secretario de Cultura o poeta: Mario Chamie, indicado pelo então Prefeito: Sr.Antonio Salim Curiati, indicado pelo Governador: Sr Paulo Salim Maluf,eleito pela ARENA,no colégio eleitoral

Aproveitando o ensejo, apresentei-me, como membro de um grupo que realizava atividades culturais na região, que era estudante de Contra Baixo Acústico, na Orquestra de Cordas do Sesc, regida pelo maestro: Alberto Jafet, e que tínhamos projetos em fase de elaboração para apresentarmos ao C.C.J.

Assustado com minhas colocações, Joãozinho com a cabeça confirmava a história e sem querer e nem saber, transformou-se naquele momento membro fundador da Tertúlia Jabaquara.

Passadas duas semanas, chamei o Joãozinho que já havia esquecido dos tais projetos culturais, e fomos procurar a simpática diretora.

Ao nos ver, plantados na porta de sua sala, não mais lembrava de nós nem dos tais projetos.Depois de alguma insistência, ela nos recebeu e de forma burocrática, aceitou agendar uma próxima reunião para tratarmos do evento.

Agora estava tudo acertado para dali mais 15 dias, trazermos o projeto por escrito com todos os detalhes.Na volta para casa, milhares de duvidas começaram a serem comentadas.Entre tantas algumas tinham mais urgência de serem resolvidas: quem sabia redigir um projeto? Quem ajudaria a produzir o evento? Já que havíamos blefado.

Na verdade não existia grupo algum, e tudo aquilo não passava de puro oportunismo, gerado pela necessidade de participarmos, daquele momento tão especial do inicio dos anos 80.E a possibilidade de cooperarmos de forma ativa, com tantos outros movimentos: políticos, culturais, estudantis, sindicais, para dar fim à ditadura, que dava, os últimos acordes da trágica sinfonia, que os militares e seus asseclas do colégio eleitoral, regiam, indiferentes às vaias da platéia, que de frente em uníssono, bradavam contra: a arbitrariedade, as torturas, os exílios, e a falta de liberdade de expressão, que nos sufocava há quase 20 anos.

De imediato, procurei o Marco Antonio, colega da orquestra e intelectual da turma do Jabaquara, que sempre trazia conssigo: livros e discos dos mais diferentes estilos; influenciando toda a turma.Contei a ele meus projetos, e ele de pronto concordou em ser o produtor musical.Outro que propus a participação na organização foi o artista plástico e fotografo: Roberto Lopez, que elaborou o cartaz e deu uma força imprescindível em toda a divulgação, que foi realizada nas escolas públicas da região, sala a sala de aula, onde convocamos os alunos a participar e promover o evento.

A formatação do projeto ficou a cargo de minha irmã Graça que também criou o nome do grupo organizador: Tertúlia Jabaquara, Anderson fez a assessoria técnica e Wagner Dias, colaborou como assistente de palco. Ah, o Joãozinho? Só deu mesmo o apoio moral.

Marinheiros de primeira viagem ,iniciamos uma série desgastante de negociações com a diretora do C.C.J, que a cada reunião tornava-se mais intransigente e em alguns momentos quase nos levou a desistir da empreitada,devido a tantas dificuldades, que ela colocava em relação ao fornecimento dos equipamentos e materiais para a realização do evento.

Mas não podíamos amolecer, e fomos brigando item a item, até o último minuto, e felizmente conseguimos, com sucesso absoluto de público, realizarmos o Jabaquara Mostra Música, em 30.05 1982.

Participarão do evento: Hermelindo Neder Futebol Music com vocal de Vania Bastos,Grupo Fé,Vinheta,Leny Gordin (que não se apresentou por motivos “técnicos”mas passou à tarde toda solando a guitarra desligada no camarim.) o Grupo Teatral O Coracão Vermelho da Vaca Amarela,a bailarina Vera Helena, e o ator Calos Maravilha entre outros.

A Tertúlia, e os artistas participaram do evento gratuitamente.

Este projeto abriu espaços para novos artistas: poetas, músicos, atores, bailarinos, fotógrafos.

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