terça-feira, 10 de novembro de 2009

A ditadura,vista de longe.


“Todos juntos vamos pra frente Brasil”

O homem pisou na lua, os tratores chegaram à minha rua. Logo colocaram os paralelepípedos, e o “Tremendão”,(ônibus) passou a fazer ponto final ao lado de nossa casa.O progresso chegava à porta.

No inicio dos anos setenta só falava-se na copa do mundo do México.
Até então, nunca havia ouvido falar tanto dos militares, a não ser quando meu pai comentava com certa magoa: “O Castelo Branco, morreu na queda do avião, por castigo de São Pedro, ele tirou o feriado de 29 de julho, dia do Santo”.

Com à polemica em torno do técnico João Saldanha, que havia perdido o cargo para Zagalo, sobre a acusação de ser comunista,ouvi falar novamente nos militares. Já com um certo temor, pois começava a entender porque eram tão respeitados: tiravam feriados, mudavam técnicos de seleção...

O Brasil venceu a copa. O campinho de terra batida onde jogávamos bola, nunca foi tão concorrido, todos queriam ser: Pelés, Tostões, Rivelinos.
Como nem todos tinham Congas,( precário tênis da época ) jogávamos bola calçados de um só pé.Os que tinham ,emprestavam um pé para os que não tinham e todos podiam igualmente, participarem do jogo.


. “Este é um país que vai pra frente...”

Esse, era o refrão mais ouvido naqueles dias. No programa do Silvio Santos, víamos uma serie de reportagens, sobre inaugurações do governo e tínhamos a clara impressão, que realmente estávamos indo para frente, havia certa confiança nos militares e para a gente pobre das periferias, essa imagem de progresso, ficou muito marcada.

No rádio na TV e nas escolas públicas, graças à censura, só nos informavam o que era de interesse dos milicos.
Nunca gostei das fotos, do carrancudo General, Garrastazu Médici e do Ministro da educação Jarbas Passarinho, estampadas em todo nosso material didático.Toda vez que falávamos em política a professora mudava de assunto.

Uma cena daqueles anos, nunca esqueci. Minha mãe era empregada domestica, num prédio da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio em frente ao Tribunal do Segundo Exército. Algumas vezes, que fui ao seu trabalho, presenciei a chegada de vários homens: barbudos e cabeludos, descendo de jipes do exército, algemados e, escoltados por batedores de motos. Interditavam à avenida, e quando se questionava quem eram aqueles homens, sempre davam a mesma resposta: “São os comunistas,
terroristas”.

Texto inédito do livro que estou escrevendo sobre MPB.

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